30 outubro 2015

Pra (se) fazer feliz.

- Ele me deixou. Depois de dois anos e milhões de abraços, depois de dizer que me amava e se marcar a fogo no meu peito. Depois de tudo, ele foi embora e eu fiquei. E agora? O que eu faço com as lembranças, com o amor, com as promessas? O que eu faço com a traição?
- Você joga tudo fora. Se livra de tudo. Mas você aprende. E você começa de novo, simples assim.
- Sem ele? Depois de tanto tempo?
- Você vai estar com quem mais importa: você mesma. A gente tem que ser o nosso mais importante caso de amor, sabe? E a gente sempre acaba esquecendo quando ama por muito tempo, mas o que interessa não são os olhos azuis ou o abraço apertado ou o sorriso que aquece o nosso peito. É lindo, e a gente gosta, é claro, mas a gente tem mais é que cuidar do nosso primeiro. A gente tem que aprender a ser feliz sozinho, pra depois poder ser feliz junto. Pra fazer feliz. Por que felicidade tem muito de espaço, de respeito, de amor. E os limites, a gnte aprende com a gente mesmo. E depois, é expandir. É só amar muito, amar demais, amar tanto que chega a rasgar as beiradas. E eu juro, é simples assim.

29 outubro 2015

Noite Adentro


- Eu acho que você devia dormir.
    Ele diz, acariciando sem notar o corpo familiar.
-Mas eu queria escrever...
    Ela reclama, os olhos tão pesados e a mão tão frouxa que as letras no papel já não são reconhecíveis.
- Você está com sono. É raridade. Devia aproveitar e tentar descansar.
- Eu sei, eu sei. - Ela diz, e fecha os olhos por um segundo longo demais. - Mas eu queria terminar essa história.
- Você não pode fazer isso amanhã?
- Inspiração, amor. Amanhã eu não vou lembrar o que eu pensei hoje, Então... - Ela fecha os olhos mais uma vez e deixa escapar um bocejo. A cabeça se acomoda nos ombros do namorado e ele contém uma risada baixa. - Shh, eu tô acordada.
- A pergunta é porquê, né?
- Criatividade, meu bem, é a chefe da minha alma. Se ela chama, eu preciso responder.
- Mas nem dá pra entender a letra a essa altura...
- Reescrever é melhor que tentar lembrar.
     Ela resmunga, mas é quase ininteligível .Ele ri e sacode o corpo, incentivando-a a deixar de usá-lo como travesseiro.
- Anda, larga esse caderno. Aproveite que eu estou me oferecendo pra apagar a luz.
- Você está com sono?
     Ela pergunta, a mão ainda correndo o caderno, palavras e mais palavras preenchendo as folhas.
- Não, mas você está. Faço questão de ser um namorado zeloso, que cuida das suas necessidades.
- Que galante. Eu já vou, promessa.
     E mal diz as palavras, a caneta escorrega e os olhos se fecham. Ele mesmo puxa o caderno e coloca fora de seu alcance,
- Ainda ficou faltando um pedacinho...
- Dormir. Agora. Chega de desculpas.
- Mas... - Os olhos dela se fecham contra a vontade. Ela murmura. - Só dessa vez.
    Ele ri e ela se deixa acomodar, deslizando para se esticar sobre o corpo esguio. Ele ainda precisa levantar para apagar a luz, mas ela parece tão confortável que ele se deixa, por um momento, aproveitar a proximidade e a paz que ela exibe no rosto que ele aprendeu a amar.
    Ele corre os dedos pelos cachos.
- Sua teimosa.
    Ela boceja em resposta. Ele beija o topo da cabeça da namorada e se desvencilha devagar, e o corpo reluta, mas acaba se acomodando na cama vazia.´Ele ainda a observa por segundos que se escorrem por anos, a mão hesitando sobre o interruptor por que ela parece tão linda que não consegue evitar olhá-la um pouco mais.
   E ela é dele. Completa e inegavelmente dele. Por que ela escolheu a ele.
- Apaga a luz e vem logo. A cama é fria sem você.
- Como você faz quando está em casa? Deita e chora? - Ele brinca enquanto se junta a ela no abraço familiar das noites de sono.
   O rosto dela contra o dele é a definição de paz ultimamente.
- A minha cama é pequena. Eu simplesmente fico feliz por que não temos que nos apertar nela.
- Acho que nos apertar apenas nos faria mais confortáveis.
   Ela não responde, apenas pousa os dedos sobre seus lábios e ele sorri, beijando-os delicadamente.
- Sonha comigo?
  E então ela entreabre os olhos, como que para mergulhar no azul e no sorriso sacana pelo qual ela é apaixonada, desde a primeira vez. Ela também sorri em resposta, os dedos agora desenhando um carinho pela pele que ela tanto ama.
- E eu não sonho sempre?
E ele se inclina e a beija, de leve, e os olhos dela se fecham novamente, sabendo que ela o verá de novo em breve. Mas não faria diferença, não de verdade. Eles já não sabem o que é sonho e o que é real, por que todo momento é perfeito e mesmo os gritos vem seguidos de palavras de amor. É sempre um sonho quando eles estão juntos. E isso é que é verdade.

21 outubro 2015

Conta comigo.


- Tá tudo bem? - ele pergunta, olhos buscando por águas mais profundas de mim. Sorrio.
- Tá tudo... normal. Ás vezes eu acordo e penso que ele ainda está aqui, corpo quente ao lado do meu, mas na maioria esmagadora das manhãs, desperto sabendo bem que os lençóis são só pra mim. E isso não dói.
Ele fica em silêncio, me olha meio descrente, um sorriso simpático estampado no rosto. É tudo pena, eu sei. E eu odeio isso.
- Pode se abrir, pequena. Eu sei que dói. Separar sempre dói.
- Aí que tá, sabe? Dói não. Eu tava tão certa de como as coisas tinham que ser, do nosso vai ou racha, que não me doeu em nada rachar. Sofri muito mais enquanto tentava colar nossos pedaços, enquanto tentava descobrir se nós valíamos a pena. Eu estou mais... decepcionada. Eu achei que nós podíamos ser alguma coisa, que estávamos caminhando nessa direção do construir. Mas não estávamos. Nós não éramos nada.
- Sinto muito.
Encolho os ombros, como quem o libera das desculpas. Ele não é culpado, afinal.
- Então você não precisa que eu dê uma surra nele ou coisa assim né?
- É claro que não! - eu rio, e minha mão escapole de mim e estapeia, de leve, o peito do meu melhor amigo.
- Ah, que bom. Por que eu totalmente acho que ele ia acabar comigo. Mas eu faria um esforço, por você, é claro.
- Não é necessário bancar o machão por mim. Onde já se viu? Nem parece que me conhece...
- Eu sei, mas eu senti que devia jogar no ar assim mesmo. Oferecer um apoio e tal.
Reviro meus olhos, achando graça das bobagens dele. Eu me apoio em seu corpo, meio de lado, meio jogada, e respiro fundo, o cheiro familiar tomando por completo meus pulmões. Fecho meus olhos, e minha voz sai pequena, delicada:
- Esse apoio é suficiente, promessa.
Os braços dele se prendem ao redor de mim, conforto e segurança em sua forma mais primal. Meu melhor amigo. Meu porto seguro.
- Obrigada por passar pra ver como eu estava.
- Eu sabia que você estaria bem. Mas não ia perder a oportunidade de passar um tempinho com você.
- Você precisa mesmo arrumar mais tempo na sua agenda pra mim. É ridículo o pouco que eu tenho te visto.
-Mas eu venho quando você precisa!
Eu sorrio, tocada, e meus lábios deixam uma leve impressão sobre seus ombros.
- Obrigada.
- Toda vez que precisar.
- Obrigada.
- Eu sei que você não precisa, não na real, mas eu quero cuidar de você assim mesmo. Você é preciosa demais pra mim, pequena.
- Você é bom demais pra mim.
- Você merece, tampinha. Mesmo que seja só um pouquinho, qualquer tempo que a gente possa estar assim...
Meus olhos se enchem d'água e, sem graça, eu mordo o mesmo ombro que acabo de beijar. Ele pula, palavrões colorindo o ar ao redor de nós.
- Oi, fica calma aí! Sei que você não gosta de dividir, mas não precisa arrancar pedaço. Tem pra todo mundo.
Eu encaro os olhos castanhos de sempre, o sorriso manso, o rosto que é todo amor, sempre foi, desde que acordamos um ao lado do outro depois de beber demais num evento qualquer da faculdade.É minha vez de apertá-lo num abraço, afeição jorrando de todos os cantos de mim.
- Nah, tudo bem. O que a gente tem é suficiente. É certeza.

Layout por Thainá Caldas | No ar desde 2009 | Tecnologia do Blogger | All Rights Reserved ©